terça-feira, 8 de setembro de 2009

Crônica ao Exmo. Senhor Prefeito da Estância Balneária de Santos

Caríssimo Prefeito

Convido-o para uma passeata pelas ruas da cidade. Ou melhor, para a maratona dos avós!

Experimentar o amor sem limites quando passamos a integrar o rol de vovôs e vovós do universo é como alçar aos céus da esperança, é o renascer da infância e da adolescência, é o sentir, de fato, a perenidade. Felizes e privilegiados aqueles e aquelas que, neste país de tantos maltratos à maioria dos seus idosos, podem dedicar seu tempo, ou parte dele, para as atenções, conversas, brincadeiras e dormidinhas vespertinas junto aos seus netinhos e netinhas.

Quando aproveitam também para incutir nos pimpolhos a admiração à natureza, o amor aos animais, a delicada observação das flores em jardins e quintais, o encantamento com a música, o respeito ao próximo, então, significa acrescentar e contribuir para transmitir lições, com açúcar e com afeto, na formação do cidadão e da cidadã, uma vez que os rigores da educação visando um objetivo futuro incumbem, em primeira instância, aos pais.

O passeio nos quarteirões de entorno à casa do vovô e da vovó, com a bicicleta, o carrinho ou patinete, aproveitando a manhã de céu azul e o frescor da brisa, é um desses momentos mágicos.

Seria mágico se não fosse trágico. Se as calçadas, que imaginavam o vovô ou a vovó, fossem realmente bens públicos, não seriam verdadeiras armadilhas para as crianças, avalie para os trôpegos acompanhantes delas. Uma verdadeira maratona e com obstáculos.

De tudo se encontra. Buracos de consertos não acabados, pisos danificados, reformas e construções que avançam às calçadas ( e pasme-se há lei que permite) sem deixar espaço adequado e conservado de travessia aos transeuntes, fezes de animais amados por deseducados, lixo exposto e entulhos, sem qualquer cerimônia, despejados.

Chama a atenção outra caótica visão. Os vovôs e as vovós são de um tempo, e eles, inocentes, ainda acreditam nisso, em que as calçadas, embora de uso para entrada e saída de imóveis particulares, eram realmente bens públicos. Portanto, coletivos. Assim, muitos ainda consideram acertada a época em que legislação municipal padronizava e exigia o formato e o tipo de piso para as caminhadas dos cidadãos. E mais ainda. Algum iluminado e poético legislador havia projetado para nossas trilhas urbanas as ondas do nosso mar. E como estas não eram ondas para os surfistas, foram idealizadas com textura anti-derrapante. Pois bem. Parece que outros legisladores, não tão poéticos e tampouco precavidos, deliberaram... liberar geral.

Cada morador ou moradores de imóveis decidiram aplicar o senso estético próprio. O vovô ou a vovó atentos vão registrando. Alguns resolveram trazer para as calçadas as antigas e irregulares pedras de paralelepípedos antes destinadas apenas ao leito carroçável, bem antes do evento asfáltico. Antes tivessem permanecido lá. Outros consideram maravilhosas as suas entradas vestidas com a pedra ardósia, em tons que variam do verde ao cinza, maravilhosas especialmente para um bom tombo de algum incauto ao atravessá-las molhadas pela chuva. Vários aplicam os mais variados desenhos auxiliados pelos mais variados modelos de cerâmica à disposição no mercado. Existe, até, aquele que, para sentir-se numa casa de campo, estende para as calçadas já estreitas do seu imóvel pedras alinhadas e circundadas por viçosa grama. O pior é que esquece, de quando em vez, de extirpar a tiririca que ataca e a calçada vira verdadeiro matagal urbano. E outro que decora a calçada de um metro e meio de largura com vasos de sessenta de diâmetro. Mais um pouco vamos nos deparar com algum saudoso mineiro projetando calçada com pedra-sabão.

Seguem os vovôs e as vovós, com extremos cuidados, o passeio matinal aproveitando o céu azul e a brisa fresca. O máximo que conseguem apontar para os netinhos e netinhas são exemplos de anti-cidadania. E explicar que já não existem mais legisladores poéticos e preocupados com a visão das calçadas coletivas. Também informá-los que está difícil encontrar um Poder Público que ponha ordem nessa bagunça. Talvez sonhem ainda, esses avós, com uma campanha popular de alto alcance para despertar consciências e atitudes que cabem aos cidadãos (ãs) para tornar as calçadas, que são de todos, limpas e homogêneas.

Por essa razão é que faço o convite que abriu esta crônica de uma feliz avó! E que, a despeito dos obstáculos, vai continuar tentando aproveitar, com seu netinho, as manhãs de céu azul e brisa fresca da nossa Santos.
Vó Dedé.



Ô meu, dá um jeito nas calçadas da nossa cidade!




(Texto e foto enviados pela Sra. Gui Oliva)

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